terça-feira, 15 de outubro de 2013

JORNALISTA ARARAQUARENSE LANÇA LIVRO EM SÃO PAULO

Via Jornal O Imparcial - Carlos André de Souza

‘A Bola e o Verbo’ é a primeira obra do repórter Rodrigo Viana (foto)




Nunca o nome de uma obra resumiu tão bem a trajetória de seu autor como ‘A Bola e o Verbo’, livro escrito pelo jornalista araraquarense Rodrigo Viana, que teve seu primeiro contato com o universo esportivo ao chutar uma bola de futebol nos campinhos de pelada da cidade, onde adquiriu uma qualidade que o fez chegar até as categorias de base da Ferroviária, time de seu coração. Decidiu partir para o ‘verbo’, sem deixar ‘a bola’ de lado. Se formou jornalista e iniciou seu percurso profissional em 1995 no caderno de Esportes do jornal O Imparcial, onde seguia as orientações do ‘professor’ Sidney Schiavon, editor esportivo na época. “O seu Sidney produzia duas crônicas diárias para a página 2 do jornal. Uma era dele e outra era do Severo Bravo, que era um pseudônimo que ele utilizava. Era um gênio. E o Ignácio de Loyola Brandão também começou n´O Imparcial e ele sempre se referencia ao jornal”, relembra.

Dezoito anos após sua passagem pelo jornal araraquarense, Rodrigo Viana mostra que atingiu a ‘maioridade’ e já integra o time titular do jornalismo esportivo brasileiro. Passou por vários veículos de comunicação de ponta, cobriu fatos históricos – o último deles o título mundial do Corinthians no Japão – e hoje lançará seu primeiro livro em um evento que será realizado a partir das 19 horas, no Bar do Torcedor, que fica localizado no Museu do Futebol do Estádio do Pacaembu, em São Paulo.

‘A Bola e o Verbo’ é o resultado de sua dissertação de mestrado. Ele revela que quando começou a escrever a tese, não pensava em publicar um livro, mas a ideia começou a ganhar forma durante a conclusão do trabalho. Certa vez, encontrou o jornalista Alberto Dines, criador do ‘Observatório da Imprensa’, que o sugeriu a publicação de sua obra. “Ao me recomendar que fizesse um livro, eu disse a ele que eu não sou o Alberto Dines, sou o Rodrigo Viana. Ele recomendou que eu procurasse sua editora, a Summus, que é uma editora importantíssima”, conta, sorrindo.

A publicação se tornou uma realidade e, melhor ainda, traz em suas páginas palavras escritas por nomes que valorizam ainda mais o seu trabalho, como Juca Kfouri (prefácio), Ignácio de Loyola Brandão (apresentação) e o próprio Alberto Dines (contracapa). “Convidei e todos eles toparam de primeira. Todos leram o livro e escreveram coisas muito bacanas e muito bonitas. É uma responsa! Já aconteceu, não tem volta. É um filho que tenho que assumir“, brinca Viana.

A obra traz uma análise de 13 crônicas, escritas por craques do gênero como Mário Filho, Lima Barreto, José Roberto Torero e João Saldanha. A proposta é esmiuçar a narrativa, além de mostrar o modo como a história da crônica de futebol começou a ganhar espaço na imprensa brasileira e os seus desdobramentos para a nossa literatura e para o jornalismo. “A crônica mistura prosa e poesia, ficção e realidade. A crônica sempre parte de uma coisa que aconteceu mesmo, por isso é crônica. Ela tem a liberdade de misturar outras narrativas mais ‘ficcionalisadas’. Por isso ela fica gostosa, fica próxima. Nesses tempos de correria, de internet, de factual, ela é um refresco e causa no leitor o que causa a revista, que é uma coisa que você coleciona. As crônicas seguiam esse percurso e depois de serem publicadas em jornais, elas viravam livros”, explica.

Rodrigo Viana salienta que a crônica é um gênero que veio da França, mas a crônica de futebol ganhou força no Brasil. “Os cronistas mais habilidosos estão aqui. No livro eu conto como começam a escrever mais crônicas a partir do momento que o Brasil se tornou tricampeão do mundo”, revela.

O araraquarense se mostra ansioso com o lançamento de seu primeiro livro, mas garante que o resultado ficou “bem honesto”. “É um livro que qualquer pessoa pode ler. Adaptei o mestrado para uma linguagem bem mais informal. É indicado para faculdades de comunicação e para futuras cadeiras de jornalismo esportivo, visto que estamos perto de receber dois grandes eventos esportivos. Acho que é preciso resgatar esse espaço da crônica, seja em blogs, jornais, revistas, smartphones, enfim, todos os meios que avançam e que não sabemos onde vão parar. A crônica é um espaço necessário dentro do futebol”, garante.

Rodrigo considera Nelson Rodrigues o maior cronista de todos os tempos, mas não analisou nenhuma crônica do jornalista em sua obra. “Eu não me atrevi, porque ele é muito denso, muito forte. Eu não analiso nenhuma crônica de Nelson Rodrigues porque precisaria fazer um livro somente sobre ele”, justifica.

Mas o irmão de Rodrigues, Mário Filho, tem participação de destaque no livro, principalmente por ter começado a quebrar o preconceito que sempre existiu com o jornalismo esportivo. “Não é por acaso que Mário Filho é o nome do Maracanã. Na década de 40, ele criou o Jornal dos Esportes e começou a promover eventos esportivos, além de fazer o jornalista esportivo usar gravata. Na época, o futebol ainda estava se consolidando no Brasil, tanto é que atingiu seu ápice na década de 50, com 200 mil pessoas no Maracanã. Mas é, portanto, um preconceito histórico que existe até hoje. As pessoas não consideram, assim como o nosso próprio meio não considera, que o futebol é uma instituição que já apoiou regimes democráticos, militares. É uma influência tão grande que no ano que vem vamos mexer com o país inteiro por causa de um evento. Vamos mexer com mobilidade humana, com transporte, por causa da Copa do Mundo. E não é por acaso que esse livro está sendo lançado às vésperas de uma Copa do Mundo”, ressalta.

Viana vê uma ligação entre o preconceito que existe com o jornalismo esportivo com a forma como a própria crônica é vista no meio literário. “As pessoas precisam parar de olhar o jornalismo esportivo como uma coisa menor, assim como a literatura precisa parar de olhar a crônica como uma coisa menor. Defendo no livro que a crônica é jornalismo e é literatura. Alguns teóricos da literatura falam que a crônica não é literatura e sim jornalismo. É uma literatura menor, mas não deixa de ser literatura, porque ela bebe do romance, da poesia, do conto, justamente para pegar o que chamamos de efeito de sentido de intimidade, que é a forma que o autor utiliza, por meio de metáforas e recursos linguísticos, para criar uma sensação de proximidade com seu leitor”, completa.

Rodrigo Viana não poderia deixar de fora o time de seu coração. “Analiso uma crônica da Ferroviária, que foi publicada em janeiro de 1969 na Folha de São Paulo. Ela se chama ‘Que simpatia’, e foi escrita por Lourenço Diaféria quando a Ferroviária sagrou-se tricampeã do interior. É uma das crônicas mais lindas que já vi e fala exatamente o que eu sinto pela Ferroviária”, completa.

O AUTOR

Rodrigo Viana nasceu em Ilha Solteira (SP), mas adotou Araraquara (SP) como cidade natal. Jornalista e mestre em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), é professor de pós-graduação em Jornalismo Esportivo. Repórter do SBT e colunista da revista Imprensa, ministra palestras, oficinas e workshops em parceria com a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Criador do FutCiência – grupo de estudos dentro da Universidade do Futebol – também é membro do Memofut – Grupo de Literatura e Memória do Futebol. Em mais de 15 anos de carreira, rodou o mundo atrás de boas histórias: em 2012, viajou para o Japão e acompanhou a saga do título mundial do Corinthians. Seguindo a linha investigativa no esporte, denunciou o esquema de venda de ingressos pela segurança da Fifa na Copa das Confederações, ocorrida em junho de 2013 no Brasil. É apaixonado pela Ferroviária de Araraquara, time em que jogou nas categorias de base.

Serviço
Título: A bola e o verbo – O futebol na crônica brasileira
Autor: Rodrigo Viana
Editora: Summus Editorial
Preço: R$ 32,20 (Ebook: R$ 19,90)
Páginas: 80 páginas – 14 x 21 cm
ISBN: 978-85-323-0919-8
Atendimento ao consumidor: 11-3865-9890
Site: www.summus.com.br

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